segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Pobreza oculta" afecta pessoas com qualificações

Existem centenas de crianças altamente carenciadas no concelho

“Pobreza Oculta” foi o assunto que a Frater propôs debater, no dia 29, para o qual a associação convidou uma série de representantes de diversas entidades. Falar sobre um tema que muitos melindra e envergonha, na busca de uma solução partilhada e solidária foi o objectivo deste encontro, que levantou um pouco do véu sobre a situação em que vivem centenas de barreirenses.

Como o próprio nome indica, pobreza oculta, é uma pequena parte de um problema maior que a muitos envergonha, e do qual muitos outros se tentam esquecer, mas que nem por isso consegue erradicar a situação de pobreza e exclusão social em que vivem milhares de portugueses. Os dados ao nível local foram enfatizados pela vereadora dos Assuntos Sociais, Regina Janeiro que colocou o enfoque sobretudo nas crianças. Segundo informou “os dados do concelho são preocupantes no que concerne às crianças carenciadas que frequentam o 1º ciclo do Ensino Básico. Num total de 1342, 976, ou seja 30 por cento, são crianças carenciadas de nível A, o que significa que o rendimento máximo per capita nas suas casas é de 172, 60 euros. De nível B, o Barreiro tem actualmente 100 crianças, o que significa que o rendimento dos seus encarregados de educação ronda os 214 euros/mês”. Feitas as contas e de acordo com a vereadora, “33 por cento das crianças que frequentam a escola pública do concelho são altamente carenciadas”.

A elevada taxa de desemprego do concelho que se situa nos oito por cento, revela por sua vez, que as 4773 pessoas que se encontram nesta situação têm menos de 55 anos. Não obstante, cerca de 80 por cento dos desempregados do Barreiro estão no auge da sua capacidade activa, segundo lamentou a autarca.

No que concerne ao apoio prestado a famílias carenciadas, o mesmo tem de dar resposta a 1600 pessoas, segundo os números descritos por Regina Janeiro.

Os bairros críticos do concelho como a Quinta da Mina, o Alves Redol, a Quinta da Amoreira e o Bairro das Palmeiras, entre outros, não foram esquecidos, nos quais se vivem autênticos dramas familiares com pessoas a habitarem em casas degradadas e em barracas sem o mínimo de condições de habitabilidade.

A excepção à regra no que toca há origem dos problemas de pobreza parece aplicar-se no concelho, segundo explicou Regina Janeiro, uma vez que no Barreiro a pobreza não está associada à falta de qualificações, pelo contrário. “A nossa taxa de analfabetismo é muito superior à nacional. 94,4 por cento contra a média nacional, 86 por centro. Ou seja, temos uma diferença de oito por cento em termos de taxa de alfabetização pela positiva”.

Na sua opinião, “a pobreza e a exclusão social são uma crise na realidade nacional. Há mais de 201 por cento de crianças expostas ao risco de pobreza no nosso país. Existe um elevado risco de pobreza entre os trabalhadores e não podemos esquecer que a taxa de pobreza em Portugal é superior à média Europeia. Por isso são necessárias políticas sociais efectivas e activas com medidas concretas, como uma melhoria do modelo de desenvolvimento que reduza a exclusão. É necessário reduzir efectivamente a pobreza, e isto depende da capacidade de gerar um sustentado processo de desenvolvimento económico com a criação de emprego em quantidade e em qualidade. É necessário que se elevem os níveis salariais mínimos dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas. São estes os factores decisivos no combate à pobreza”, assegurou.

Fátima Lopes, directora do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal destacou algumas das medidas do Governo implementadas ao longo dos anos, como o abono de família, que em 2007 chegou a 28 mil crianças, e algumas mais recentes, como a criação do completo social para idosos, e o apoio pré natal que pretende reforçar o apoio público às famílias, assim como um aumento efectivo da taxa de natalidade, na opinião do Governo. A estas medidas acrescem ainda outras prioridades sobretudo no aumento da cobertura de creches em todo o país, estando no momento a decorre a terceira fase da candidatura ao programas PARES, para a construção destes equipamentos para a infância.

Segundo explicou, “o Governo desenvolveu políticas de protecção social e de combate à pobreza e à exclusão que têm por base uma visão estratégica de solidariedade e de diferenciação positiva das medidas e prestações face às diversas situações de risco de pobreza, numa aposta eficaz e sustentada das respostas sociais através de uma rede de equipamentos e de serviços que permite cobrir de forma efectiva e equilibrada o território nacional”.


in Jornal do Barreiro

0 comentários: